Deus pode ser visto, desde o livro de Gênesis, como um Pai que deseja um relacionamento íntimo com seus filhos. No Jardim do Éden, na virada do dia (Gn 3:8), Deus procurava o homem para participar de sua divina comunhão, sua presença, seu imenso amor. Contudo, certo dia Adão e sua mulher procuraram se esconder da presença onipresente de Deus; pecaram, e sua desobediência lhes custou o fim de um estado de inocência e total relacionamento com o Criador. Estando destituídos da Glória de Deus (Rom. 3:23), restavam-lhes o anseio: restaurar a comunhão com o Pai.
Mas como restaurar este relacionamento? Haveria algum meio de reparar a transgressão cometida contra a Santidade Divina? De fato, se o próprio Deus não tivesse designado os meios para o restabelecimento da comunhão, o homem viveria eternamente alienado. Ao homem seria impossível, por seus próprios méritos, retomar a comunhão com o Deus Criador.
É neste contexto que se desenvolve a Graça Salvadora, a atitude divina diante da qual, mesmo quando indignos e impossibilitados de alcançar seu favor (sua comunhão, sua presença, seu amor), somos novamente aceitos, reconciliados e amados. Graça é favor não merecido, a manifestação de uma bondade particularmente divina, um amor que transcende a racionalidade humana e que, derramando-se indistintamente sobre todos os homens (“de tal maneira”), redunda no próprio sacrifício Divino (Jo 3:16).
Graça no Antigo Testamento.
No primeiro homicídio da história, quando Caim mata seu irmão Abel, Deus não impõe um sinal de morte, mas de salvação (Gn 4:15). Ao anunciar o dilúvio sobre a terra, uma conseqüência da própria pecaminosidade humana, Deus propicia sua Graça àqueles que, ouvindo a pregação de Noé, se refugiam na arca (2. Ped. 2,5). Por intermédio de Moisés, Deus liberta o povo do Egito e o conduz a terra prometida onde, diante dos constantes casos de prostituição espiritual, nunca deixara de estender sua “graciosa” mão àqueles que o buscaram com humildade e sinceridade.
Davi, homem segundo o coração de Deus, não obstante seus erros denunciados nas próprias escrituras (2 Sm,9:14), foi um exemplo daqueles que alcançam a Graça Salvadora no Antigo Testamento. Digno de morte e de rejeição pelo mérito divino, alcançou a bondade e a misericórdia que o poupou, concedendo-lhe o perdão. Deus concedeu sua Graça a tantos quantos alcançaram seu coração em busca de relacionamento.
Graça no Novo Testamento.
A Graça Salvadora só pode ser totalmente absorvida a partir de uma perspectiva cristocêntrica – Cristo está no centro na Graça Divina. O apóstolo Paulo define esta abordagem da seguinte maneira: “[...] onde abundou o pecado, superabundou a Graça, a fim de que, assim como o pecado reinou pela morte, assim reinasse a graça pela justiça para vida eterna, mediante Jesus Cristo, nosso Salvador” (Rm 5:20,21). Cristo, e só Ele, é o caminho ao Pai. A graça de Deus, em maior instância, é o dom da salvação em Cristo Jesus, uma dádiva de Deus ao pecador.
De outro modo, é por meio da Fé que acessamos a Graça Divina “Porque pela graça sois salvos, por meio da fé; e isso não vem de vós; é dom de Deus” (Ef. 2:8). A Fé é o leito pelo qual o rio da Graça Divina chega até nós. Fé e Graça se complementam na condição de que, como diz o escritor aos Hebreus: “Sem fé é impossível agradar a Deus; porque é necessário que aquele que se aproxima de Deus creia que ele existe, e que é galardoador dos que o buscam”. A Graça Salvadora, presente de Deus aos homens, só pode ser de fato acessada quando, por meio da Palavra de Deus, temos fé suficiente para reconhecermos qual maravilhosa a Graça é, e o quanto dela necessitamos.
Esta Graça, que se personifica na Pessoa de Cristo Jesus, foi dada a todos os homens (I Tim. 2: 6). Ao Homem basta crer, reconhecer suas misérias e a necessidade de salvação. A nós, já alcançados pela Graça, resta pregarmos a Palavra de Deus para que está produza fé no coração dos homens (Rm 10:17), e todos sejam inundados pela Graça Divina. De certo modo, todos nós somos também agentes da Graça Salvadora – “Como, pois, invocarão aquele em quem não creram? e como crerão naquele de quem não ouviram? e como ouvirão, se não há quem pregue? (Romanos 10:14). Sejamos pois agentes da Graça que há em Cristo Jesus.
Conclusão
A Graça Salvadora retrata a misericórdia, a bondade e o desejo de relacionamento do Deus que é Amor. Não se compra; não se merece; não se confunde; apenas se aceita. Não é mais necessário nos escondermos de Deus, como fizeram nossos Pais no Éden, hoje podemos nos aproximar Dele com ousadia (Heb. 10:19). Ele nos espera para gozarmos de uma Infinita, e graciosa, comunhão.
“Sendo pois justificado pela fé, temos paz com Deus por nosso senhor Jesus cristo. Pelo qual também temos entrada pela fé a esta graça, na qual estamos firmes, e nos gloriamos na esperança da glória de Deus” (Rm 5:1,2).
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